descrição
Os muros do bairro da Graça, em Lisboa, estão a ser pintados com obras de arte que homenageiam figuras da literatura nacional. Os desenhos e poemas que estão a surgir fazem parte do projeto “Fachadas cheias de Graça”, da autoria da associação sem fins lucrativos EBANO. A operação visa a requalificação do espaço público e vai criar um percurso de arte urbana naquela zona da cidade.
Uma nova e enorme obra do artista riachense João Maurício, conhecido por "Violant", pode ser agora apreciada numa empena à entrada do bairro lisboeta da Graça.
De grandes dimensões (a maior parede que já pintou com um só motivo, disse) e excelente localização, a pintura de Violant, que integra o projecto do Passeio Literário da Graça, apoiado pela Câmara Municipal de Lisboa, mostra uma árvore-livro a encher a rua de gotas de água e de versos de Florbela Espanca.
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Horas mortas… Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido… e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca (1894 -1930), " Árvores do Alentejo", In Charneca em Flor)