descrição
Canto. Canto a ignorância da ignorância;
Canto os que dilatam o tráfico da arte
E o desperdício químico da sapiência;
Canto o lixo ortográfico, prosódico- tóxico,
Retórico, morfossintáctico, lexical e semântico;
Canto os versos longos paginados como se de frases se tratassem, com hífenes semioticamente estéticos. Canto todos os desvios eufónicos e disfóricos; canto os semas inférteis e os fonemas impotentes; canto os espermatozóides transgénicos, acasalando óvulos de odes báquicas;
Canto a verborreia de romancistas reputés
E dos seus discípulos, na ágora dos best selers;
Canto o sumo dulcíssimo dos escritos light;
Canto os velhos do Restelo, no cais do Expansionismo da poética, exortando os Navegantes das Letras a não seguirem as rotas Mais desviantes e alternativas; canto a ária árida do Ensino da língua mátria, em prol da reflorestação de Vícios linguísticos vis; canto, enfim, os artesãos
Que, por obras de lixo prolixo, «se (não) vão
Da lei da morte libertando».
Violeta Teixeira, inédito